Outras Realidades (20/4)
(see english below)
O dia começou com uma visita rápida a um local bem interessante em Santarém: o pequeno museu Dica Frazão. Dona Dica é uma estilista e costureira que se utiliza de materiais naturais para fazer moda, transformando o material bruto em tecidos ou apliques bastante criativos. Vimos, por exemplo, suas toalhas de crochê de palha de buriti, vestidos de patchouli, de juta e de casca de madeira, adornos de flores de pena de ganso, dentre muitas outras peças. Chama muito a atenção o preciosismo da artesã e o espaço do museu, que também é casa e ateliê de Dona Dica, tudo no mesmo lugar!
Depois disso, pegamos um ônibus para a Comunidade Jamaraquá. Em poucos minutos de viagem, conhecemos Nice, a líder da comunidade, que nos deu várias dicas: indicou a casa de sua mãe para pouso (em Jamaraquá não há pousadas) e se prontificou a ajudar-nos a ver a produção do couro de látex. Jamaraquá fica dentro da Flona Tapajós, uma área de reserva bastante controlada: os moradores tiveram que mudar de vida para que a área de conservação fosse criada a partir dos anos 70, o que ainda gera impasses.
Conforme o ônibus avançava, fomos vendo diversas casas de roça, pequenas comunidades e passamos pela cidade de Belterra. É muito comum ver casas com telhado ou até paredes inteiramente de palha, a arquitetura vernacular local. Mesmo muito humildes, as casas têm plantas na frente, formando uma espécie de jardim. Há muitas cercas e varandas de madeira com as ripas formando grafismos, simples e sofisticados ao mesmo tempo.
Já em Jamaraquá, área de muitas seringueiras, visitamos o centro de produção do couro de látex, onde fomos guiadas pelo Seu Dido. Ele mostrou todas as etapas de fabricação deste material, que ainda é pouco usado.
Jantamos na casa da mãe da Nice, Dona Socorro, que tem 16 filhos, além dos agregados, gatos, cachorros, galinhas e até um papagaio -“Laura”- que vive solto. O marido de Socorro, Seu Iracildo, trabalha com turismo e é conhecido por fazer trilhas noturnas em que pega jacarés na mão. A família é descendente de índios, porém não gostam de falar disso. Ser índio aqui não é motivo de orgulho, parece ser associado com atraso: vimos uma criança chamar a outra de índio com conotação bem pejorativa.
Por fim dormimos em redes no “pouso”, que era uma construção sem paredes e só com telhado de palha, à beira do Rio Tapajós e cercada pela Floresta Amazônica…
A seguir, imagens: vestido de Dica Frazão, casa na beira da estrada, galpão de fabricação com o couro de látex, a casa de Dona Socorro em Jamaraquá.
—
The day started with a quick visit to a very interesting place in Santarém: the small museum Dica Frazão. Dona Dica is a stylist and also a sewer who uses natural materials in fashion designs by transforming raw material into creative textiles or accessories. We saw, for example, her crochet towels made out of buriti straw; patchouli, juta and three trunk dresses; flowers out of goose feathers; among many other things. Her strong attention to detail calls as much attention as the space of the museum itself, which is also her house and atelier all together!
After that, we took a bus to Jamaraquá Community. In the first few minutes of our trip we met Nice, the community’s leader, who gave us a lot of tips: she indicated the house of her mother as a place to stay (no hotels in Jamaraquá so far) and also offered to help us finding the local rubber production. Jamaraquá is inside the Flona Tapajós, a strictly controlled reserve: in the 70’s, the inhabitants had to change their lifestyle in order to create the conservation area, a situation that is still a bit problematic.
As the bus went on, we started to see many countryside houses, small communities and we also passed by the city of Belterra. It is very common to see houses with roofs and even walls totally made out of straw, the local vernacular architecture. Even very humble houses have plants in front of it, forming a garden. There are many fences and balconies made out of wooden sticks forming graphic shapes that are at the same time simple and sophisticated.
At Jamaraquá, an area full of “rubber” threes, we visited the rubber production centre, where Mr. Dido guided us. He showed all the steps of the preparation of this material, which is still barely used.
We had dinner at Nice mother’s house, Dona Socorro, who has 16 children, besides the many cousins that live there, cats, dogs, chickens and a parrot – called “Laura” – which lives out of any cage. Socorro’s husband, Iracildo, works with tourism and is known for making walking tracks at night and taking alligators with his hands. The family descends from Indians, but they don’t like to talk about that. To be an Indian here is not something to be proud of, it seems to be associated with old and stupid: we saw a child calling her sister “Indian” with a very bad connotation.
Finally, we went to our hammocks. We slept inside a construction with only the straw roof on top, totally without walls, just by the Tapajós River and surrounded by the Amazon Forest…
Above, the images: a dress by Dica Frazão, a house in the bus path, the place of fabrication of the latex with the rubber and the house of Dona Socorro in Jamaraquá.